quarta-feira, 23 de abril de 2008

Portuguesa estuda vida nos meteoritos


Não são uns meteoritos quaisquer. São condritos carbonáceos, muito ricos em carbono e, garante a investigadora Zita Martins, que está a trabalhar no Imperial College, em Londres, são muito ricos também nas moléculas que constituem os elementos básicos da vida. É esta, justamente, a novidade que a equipa internacional, na qual está integrada a jovem cientista portuguesa, acaba de publicar na revista Meteoritics and Planetary Science. Estes meteoritos (os tais condritos carbonáceos) têm dez vezes mais moléculas básicas essenciais à vida do que se pensava até agora.

A descoberta, feita graças à análise de dois meteoritos caídos na Antárctida, além do entusiasmo que gerou na comunidade científica, pode ajudar também a perceber melhor o que se passou na Terra há mais de quatro mil milhões de anos.

Foi nessa época já distante da história do planeta - num período compreendido entre há 4,8 mil milhões de anos e 3,8 mil milhões de anos - que emergiu, num dado momento, a vida. Foi também nesse período que a Terra foi bombardeada por muitos meteoritos. Juntando dois mais dois, a investigadora portuguesa e os seus colegas do Imperial College e da NASA, pensam que isso pode ter sido um factor decisivo para o surgimento da vida na Terra. Recusam, no entanto, liminarmente a teoria da panspermia, segundo a qual a vida teria chegado à Terra, vinda de fora.

"São dois conceitos totalmente diferentes", afirma Zita Martins ao DN. E explica: "Ninguém sabe como a vida surgiu na Terra, mas a nossa descoberta sugere que este tipo de meteoritos, pela quantidade de aminoácidos de núcleos-base e de moléculas de carbono que contêm, poderão ter tido um papel fundamental para que as coisas acontecessem desta forma".

A equipa analisou três meteoritos descobertos na Antárctida. E em dois deles encontrou quantidades de moléculas orgânicas dez vezes mais altas do que até hoje se tinha conseguido detectar. Estes dois meteoritos, o EET92 e o GRA95529, foram descobertos na Antárctida, respectivamente em 1992 e 1995. "São meteoritos provenientes da cintura de asteróides que há entre Marte e Júpiter", adianta a investigadora portuguesa.

Os aminoácidos são as moléculas orgânicas que formam as proteínas e estas, por seu turno, produzem as estruturas que induzem as reacções químicas no interior das células. A produção das proteínas é considerada um dos primeiros passos para o surgimento da vida.

Mas por que razão só agora se chega a uma resultado destes, se a análise de meteoritos já é feita há décadas?

"Temos agora tecnologias muito mais apuradas do que há dez anos e por isso conseguimos detectar quantidades muito diminutas de moléculas orgânicas, o que não era possível há dez anos, por exemplo", explica Zita Martins. Por outro lado, há também mais meteoritos para estudar, já que todos os anos há missões específicas à Antárctida para fazer a sua recolha.

A partir daqui, o caminho é "continuar a investigar", afirma a cientista portuguesa, que está envolvida também na pesquisa para detectar (ou não) a existência de vida em Marte, numa missão da agência espacial europeia ESA.

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